Uma Triste Realidade para a Vaquita
Caros Amigos e Colegas,
Escrevo para expressar minha discordância com a decisão tomada no México que vai, mais uma vez, permitir a pesca no habitat natural das vaquitas – uma espécie de toninha em grave risco de extinção que precisa de proteção contra as redes de pesca. A população de vaquitas atualmente já é pequena, e a decisão é uma sentença de morte para as que restaram.
No dia 22 de abril de 1992, há 29 anos, eu e meu pai, Jacques Cousteau, fomos ao México nos encontrar com o governante da época, Presidente Carlos Salinas de Gortari, para assinar um plano de ação proposto em um acordo aceito pelo governo mexicano: O Plano de Resgate e Manejo Sustentável do Mar de Cortez. Fomos acompanhados por dois membros da nossa organização, o Dr. Richard Murphy, Ruben Arvizu, e muitos membros da nossa equipe de gravação. O plano foi baseado em muitos dos estudos que realizamos ao longo dos anos no Golfo da Califórnia, ou Mar de Cortez. Meu pai chamava o lindo corpo de água de "o aquário do mundo." Além disso, especialistas mexicanos com vasto conhecimento sobre as águas férteis também adicionaram seus estudos científicos. A principal ideia era impedir a extinção de um mamífero marinho extraordinário: a vaquita, uma toninha graciosa única no mundo cujo habitat é limitado exclusivamente às águas do Mar de Cortez. As mídias mexicanas e internacionais espalharam os benefícios do plano, que também visava melhorar as vidas dos pescadores e moradores das cidades litorâneas, ensinando métodos de pesca mais eficientes e eliminando o uso de certas redes letais para as vaquitas. O plano também pretendia desenvolver o ecoturismo, algo totalmente novo na época. Hoje, 29 anos depois, supostamente houve tentativas de salvar as vaquitas nas últimas cinco administrações do governo mexicano; mas a triste realidade é que foram projetos apenas para melhorar relações públicas e fazer autopromoção, tirar vantagem das boas intenções de organizações e celebridades internacionais. A pesca ilegal de outra espécie em risco de extinção, o totoaba, peixe muito procurado na Ásia, com valores que chegam a dezenas de milhares de dólares por unidade, continua incessante. O envolvimento de cartéis de drogas no tráfico de totoabas para a China infelizmente aumentou nos últimos anos devido à corrupção em órgãos de autoridade. Quando os totoabas são pescados, as vaquitas acabam presas nas redes e morrem asfixiadas. Sabemos que muitos cientistas dedicam todos os seus esforços para resolver o problema da extinção da vaquita, mas é um problema muito complexo: social, político e até mesmo de segurança nacional.
Sabemos que no dia 24 de setembro de 2020 um acordo foi estabelecido pelo governo mexicano no qual equipamentos, sistemas, métodos, técnicas e horários para as atividades de pesca no norte do Golfo da Califórnia foram regulados. Consideramos isso um progresso importante para a solução dos problemas da pesca na região e erradicar a captura ilegal e tráfico dos totoabas. Para isto, foram necessárias implementações de medidas adicionais para resolver de maneira eficaz os inúmeros desafios econômicos, biológicos, sociais e culturais que caracterizam a pesca no Golfo da Califórnia. Mas hoje, menos de um ano depois de implementar medidas que poderiam conter a extinção da vaquita, o governo mexicano regride dando um fim à zona de pesca proibida, permitindo que até 65 barcos de basco tenham acesso ao local. É uma contradição grave que atraiu represália internacional e pode provocar sérios danos econômicos ao México. A Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES) pode vetar o México do comércio internacional de espécies.
As vaquitas precisam de proteção contra a pesca – não de uma decisão que autoriza a pesca em seu habitat. Imploro à Secretaria de Pesca (SEPESCA) e às organizações de manejo de vida silvestre do México que reconsiderem a decisão.
Grato,
Jean-Michel Cousteau
Presidente, Ocean Futures Society
“Proteja O Oceano E Proteja A Si Mesmo”
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